A Ciência Homeopática nasceu no ano de 1796 após publicação do artigo científico intitulado: “Ensaio para descobrir as virtudes curativas das substâncias medicinais, seguido de alguns comentários sobre os princípios curativos admitidos até nossos dias”. O autor desse artigo foi o médico alemão Cristiano Frederico Samuel Hahnemann, criador da terapêutica homeopática. Hahnemann nasceu no leste da Alemanha, na cidade de Meissen, no ano de 1755. Personalidade marcada por uma aguçada inteligência e espírito científico extremamente crítico o motivaram desde cedo ao estudo da medicina e da química. Considerando que o ensino das ciências e da medicina na época (1775) era muito teórico e isento de qualquer contato com o paciente, a prática médica envolvia um conhecimento muito mais filosófico do que prático. Era a medicina das sangrias e dos purgativos que na maioria das vezes piorava o quadro clínico do paciente no lugar de curá-lo. Hahnemann exerce por oito anos esta medicina, dividindo o seu tempo com a clínica médica, o estudo da medicina e da química. Não podemos deixar de citar o envolvimento de Hahnemann com traduções científicas, fruto da sua brilhante inteligência, que o tornou um poliglota ainda aos 24 anos de idade, com domínio de nove idiomas (latim, grego, hebraico, inglês, francês, italiano, espanhol, árabe e alemão). Antes do desenvolvimento da homeopatia, Hahnemann já possuía uma impressionante produtividade, tendo publicado entre traduções científicas e obras literárias originais, um total de oito trabalhos, num período curto de três anos (1786 – 1788) no qual se colocava contra o uso de emplastros de chumbo ou do sublimado corrosivo por via interna, cuja toxidade denunciava. Publicou os critérios de pureza e de falsificação dos medicamentos. Descreveu a influência de alguns gases na fermentação do vinho. Criticou o uso abusivo do álcool e do café, acusando-os de dois inimigos do sistema nervoso e salientou a importância da higienização para a prevenção das doenças, dentre outras obras. Em 1790, a pedido de um de seus editores de Leipzig, Hahnemann realiza a tradução do Tratado de Matéria Médica, em dois volumes, do médico escocês William Cullem, considerado uma autoridade internacional na composição e atividade das drogas medicinais. Ao traduzir o artigo destinado à droga antimalária Cinchona officinalis (quina), Hahnemann fica impressionado com a afirmação de Cullen: “A quina cura a malária fortalecendo o estômago, devido as suas propriedades amargas e adstringentes”. Hahnemann resolve testar em si o uso do famoso pó de quina, tomando durante vários dias, duas vezes por dia, quatro dracmas (o equivalente a cerca de 17 g) da droga. Durante essa experimentação registra todos os sintomas que desenvolve pelo uso da quina, tais como: febre intermitente, fraqueza, sonolência, tremores, e outros sintomas habitualmente associados à malária. Conclui que a quina poderia ser utilizada porque era capaz de produzir sintomas semelhantes aos da doença quando utilizado por um indivíduo de boa saúde, ou seja, “são”. Desta forma, Hahnemann resgatou a Lei Hipocrática da Semelhança: “Similia similibus curantur” e afirmou: “Os remédios só podem curar doenças semelhantes àquelas que eles próprios podem produzir”. Essa é a reflexão original que, junto à experimentação de medicamentos em pessoas sadias e sensíveis, permitiu a criação da homeopatia, no ano de 1796. A terapêutica se baseia, portanto, em pilares sólidos que envolvem a “Lei da Semelhança”, “A Experimentação no Homem São”, “O Uso de Doses Mínimas ou Infinitesimais”, o “Uso do Medicamento Único”. Hahnemann testou em si e em seus alunos cerca de 60 substâncias diferentes, catalogando o conjunto de sinais e sintomas físicos e subjetivos (patogenesia) que os indivíduos sem doença desenvolviam durante a experimentação e salientou a importância desta experimentação ser feita com uma única substância por vez. A diluição e a dinamização são conceitos introduzidos por Hahnemann, visando à diminuição da toxidez das substâncias (diluição) e a liberação da força medicamentosa latente das substâncias (dinamização). Os estudos de Hahnemann foram realizados até a sua morte, aos 88 anos de idade, quando desfrutava de muita reputação e prestígio. Durante o desenvolvimento da homeopatia Hahnemann Farmacopeia Homeopática Brasileira, 3ª edição 8 publicou, entre outras, três grandes obras: O Organon da Arte de Curar (1810); A Matéria Médica Pura (1811) e o Tratado de Doenças Crônicas (1828). A homeopatia chegou ao Brasil em 1840 pelo médico francês Dr. Benoit Jules Mure. Naquela época, o Brasil não possuía autonomia para a produção dos medicamentos, sendo as matériasprimas homeopáticas (tinturas, minerais, vegetais) importadas, principalmente da Europa. O cenário nos dias de hoje é bastante diferente e vemos a homeopatia difundida em vários países pelo mundo. No Brasil, o preparo dos medicamentos homeopáticos é respaldado pela Farmacopeia Homeopática Brasileira que teve sua primeira edição publicada em 1977. A Ciência Homeopática continua em franco desenvolvimento, com trabalhos científicos sendo realizados com diferentes modelos, tais como: animais de laboratório, culturas de células, modelos físico-químicos, dentre outros. Os ensaios clínicos, duplo-cego, randomizados, placebo controlados foram e continuam sendo feitos em várias partes do mundo, na busca da consolidação científica da homeopatia. Cientistas de todo o mundo vem desenvolvendo protocolos visando à
compreensão dos efeitos das substâncias diluídas e dinamizadas utilizadas por esta terapêutica que valoriza não apenas a doença, mas, também o doente, com as suas suscetibilidades, fragilidades, heranças genéticas e inconstâncias emocionais. Portanto, a Homeopatia é uma ciência que atende, desde o ano de 1790 aos critérios científicos, estabelecidos originalmente por Hahnemann que vem sendo comprovados pelos trabalhos científicos publicados nas últimas décadas.